Define-se um Jessier que não é um Jessier qualquer?

Ricardo Anísio

Como definir um artista popular do Nordeste? Isso é simples. Define-se como Jessier Quirino, ímpar. Um homem culto, um pesquisador atento. Um poeta contador de causos que fez com que o Brasil revisse seus mestres. Mestres como Zé da Luz, uma das fontes nas quais bebeu. Jessier fez Jô Soares se curvar. Elevou o nome do Nordeste sem precisar falar de sêca, de pobreza. Falou sim, do bravo homem do campo, cheio de sabedoria, prenhe de poesia. Jessier consegue fazer com que um analfabeto conte a história de um filme sem legenda.

Ou seja, tira leite de pedra. Seus livros, seus CDs, seus espetáculos; arrastam multidões e deslumbram críticos e leigos. Esse é Jessier Quirino, o artista que fez a Ravel cair no Bolero de Isabel. Um poeta que viu o nó bem dado por São Pedro e arrochado por São Cosme e Damião. Na Paisagem do Interior, Jessier Quirino é hoje a bandeira pulsante e forte da Nação Nordestina.

Na loca do maloqueiro, Jessier se amoita para ver o cacho de banana amadurecer. E não digam que o Coco dele é forasteiro, vigarista e labrojeiro; que deixa o povo morrer. O Caco dele é de Aleluia, trazendo água na cuia, salvando, fazendo viçar o terreiro dos nossos corações. O gelo da lua, o calor dos corações. Jessier é síntese? Não tenho mais certeza disso. Jessier é plural, é amplo, é singelo e homérico.