COMO É BOM FALAR DE JESSIER QUIRINO!

Waldemar Solha

 

Aqui na Paraíba há dois cabras que não hesito em chamar de gênios: Oliveira de Panelas – pelo vozeirão e o improviso, mais Jessier Quirino – de que falo agora – pelo verso escrito, verve em palco… e riso. Daí o enorme sucesso dos shows desse filho de Campina Grande, radicado em Itabaiana – e de seus livros casados com CDs, permitindo-nos mandar para amigos e parentes distantes amostras vivas de sua versatilidade, com direito a replays de seu talento histriônico, além de leituras e releituras de suas estrofes magistrais.

Claro que vê-lo é ainda mais incrível, pela transformação – apenas com a voz e a expressão corporal – que esse arquiteto alvo e de cavanhaque nobre sofre em cena, passando de repente a matuto ingênuo ou muito sabido, muito velho ou muito dotô.

Mas Jessier também é dono de uma prosa extremamente expressiva. Em seu “Berro Novo” há um texto e uma apresentação que fatalmente irão comparecer, daqui por diante, em antologias em que figure o também paraibano Ariano Suassuna: “Pobrema Cardíuco”. Caramba, fazia muito tempo que eu não ria tanto e, ao mesmo tempo,  não reverenciava tanto a um criador!!! Ge-ni-al!!!

 

Como poeta, Jessier tem achados notáveis. Por exemplo:

 

“Louco era se eu quisesse, por fina força,

engordar uma bicicleta!

Louco é o açougueiro que,

na frente de todo mundo, corta os pulsos do filé!”

 

Veja sua saudação a Zé da Luz: Perfeita.

 

“Teje num céu de primeira.”

 

Suas comparações, quase sempre retiradas de seu próprio universo, mostram uma capacidade associativa fabulosa. Cito dois exemplos:

 

“Ficou tremendo que só Toyota em ponto morto.”

“Faceiro que só mosca em tampa de xarope.”

 

Veja esta estrofe, detalhe por detalhe:

 

“De morreres de amores tu fingiste,

Meu juízo pacífico alopraste,

Meu castelo de sonhos tu ruíste,

Meu chuvisco sereno trovoaste,

Meus colchetes do peito tu abriste,

E os passeios venosos, pressionaste,

Se os meus doze por oito tu subiste,

Minhas fibras cardíacas enfartaste.”

 

“Bandeira Nordestina” e “Berro Novo”. São dos livros-e-CDs que vão matar você de rir… e de orgulho de ser paraibano.