Poema de Braulio Tavares sobre o livro “BANDEIRA NORDESTINA”

Jessier, meu camarada,

mestre mais novo que eu!

Há quatro ou cinco minutos

alguém na porta bateu

e o porteiro Severino

(que eu maldo que é nordestino)

um envelope me deu.

 

Conheci, logo de cara,

sua letra de arquiteto:

o que é redondo é redondo,

curvo é curvo, e reto é reto!

Até mesmo seu autógrafo

parece feito a normógrafo

embelezando o projeto.

 

Rasguei depressa o invólucro,

vi o livro e o CD!

“Nos trinques”, “fiche”, conforme

tudo que vem de você.

E atingindo dois mercados:

os cultos e os iletrados,

o que só ouve e o que lê.

 

E pelos próximos dias

daqui de casa eu não saio!

Cancelo meus compromissos,

digo que tive um desmaio,

me tranco no gabinete

pois sei que tenho um banquete

pro resto do mês de maio.

 

Ler e ouvir seus poemas

me leva aos tempos distantes

em que víamos o mundo

com olhos de estudantes,

relendo as Obras Completas

daqueles outros poetas

que pareciam gigantes.

 

Ouço a voz dos camelôs

lá da Cardoso Vieira,

conversas dos chapeados

pelas calçadas da feira,

ou os causos de um amigo

tomando café no abrigo

lá da Praça da Bandeira.

 

Lero-lero das resenhas

da Rádio Caturité,

brebôtes dos pirangueiros

dos bares do Catolé;

e as quatro escolas da vida:

Babilônia e Avenida,

Capitólio e São José.

 

Nas calçadas de Campina

escutei, não esqueci,

a fala dos sertanejos,

as línguas do Cariri,

gírias, jargões, dialetos,

dicionários completos

que são criados ali.

 

O poeta tem que ter

um gravador no ouvido,

registrar as variantes,

lembrar o som e o sentido,

e recolher no seu verso

esse Amazonas disperso

que rola despercebido.

 

Ele fotografa o mundo

Com sua massa cinzenta.

Grava, escuta, fala, escreve,

explora e experimenta.

Seu brinquedo é seu estudo:

o poeta sabe tudo,

e quando não sabe, inventa.

 

Seus versos fazem o rosto

das moças mudar de cor;

têm a química dos cheiros

e a física do calor;

têm a história dos desejos

matemática dos beijos

geografia do amor.

 

Você tem ouvido fino

de quem tocaia canção;

e escreve como quem colhe

os capuchos do algodão,

tornando o nosso Nordeste

da altura do Everest

da largura do Sertão.

 

Seus versos são veias cheias

Do sangue bom de Campina

e deixam cheio de orgulho

o Raio da Silibrina.

Você não é só um astro:

é o verdadeiro mastro

da Bandeira Nordestina.

 

Braulio Tavares

Rio, 25 de maio de 2006